Tuesday, June 22, 2010

Um pensamento

Sofremos quando nao entendemos que nao amamos os outros, amamos a nos mesmos na imajem dos outros.

Veja um excerto da critica do livro do grande Chagas

A vibração e a sensibilidade juvenis desta obra, ao lado das promissoras pospostas literárias de outros jovens como Awita Malunga e Eusébio Sanjane, um sopro estimulante de frescura, indiciam que a literatura moçambicana nao morreu, afinal. Com alguma timidez, é certo, ela parece querer seguir o exemplo de outros mais dinâmicos do nosso panorama artístico, caso das artes plásticas ou da música, em que os executantes do rap e do hip hop, ousados e reinvintivos na mistura de ritmos, sons e de linguagens, desbravam novos caminhos para a arte e para a cultura. Ainda é obviamente muito cedo para afirmarmos que em Levene achamos definitivamente um poeta. Mas Tatuagens das Estrelas é seguramente um passo importante nesse sentido

Thursday, May 20, 2010

O ranking

Eis um ranking onde nao irei graduar as minhas preferencias, contudo, mostrarei os mais belos textos poeticos que ja li, e jamais pensei que a sensibilidade humana pudesse concebelos tao perfeitos. E como nao poderia deixar de ser comecemos com:

Para Ti 

Foi para ti 
que desfolhei a chuva 
para ti soltei o perfume da terra 
toquei no nada 
e para ti foi tudo 

Para ti criei todas as palavras 
e todas me faltaram 
no minuto em que talhei 
o sabor do sempre 

Para ti dei voz 
às minhas mãos 
abri os gomos do tempo 
assaltei o mundo 
e pensei que tudo estava em nós 
nesse doce engano 
de tudo sermos donos 
sem nada termos 
simplesmente porque era de noite 
e não dormíamos 
eu descia em teu peito 
para me procurar 
e antes que a escuridão 
nos cingisse a cintura 
ficávamos nos olhos 
vivendo de um só 
amando de uma só vida 

Mia Couto, in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas"

Não faz mal.

Voar é uma dádiva da poesia.
Um verso arde na brancura aérea do papel,
toma balanço,
não resiste.

Solta-se-lhe
o animal alado.
Voa sobre as casas,
sobre as ruas,
sobre os homens que passam,
procura um pássaro
para acasalar.

Sílaba a sílaba
o verso voa.

E se o procurarmos? Que não se desespere, pois nunca o iremos encontrar. Algum sentimento o terá deixado pousar, partido com ele. Estará o verso connosco? Provavelmente apenas a parte que nos coube. Aquietemo-nos. Amainemo-nos esse desejo de o prendermos.

Não é justo um pássaro
onde ele não pode voar.

Eduardo White.

Posso escrever os versos mais tristes esta noite. 
Escrever, por exemplo: "A noite está estrelada,
e tiritam, azuis, os astros lá ao longe". 
O vento da noite gira no céu e canta. 

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Eu amei-a e por vezes ela também me amou. 
Em noites como esta tive-a em meus braços.
Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito. 

Ela amou-me, por vezes eu também a amava.
Como não ter amado os seus grandes olhos fixos. 
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Pensar que não a tenho. Sentir que já a perdi. 

Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela.
E o verso cai na alma como no pasto o orvalho. 
Importa lá que o meu amor não pudesse guardá-la.
A noite está estrelada e ela não está comigo. 

Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe.
A minha alma não se contenta com havê-la perdido. 
Como para chegá-la a mim o meu olhar procura-a.
O meu coração procura-a, ela não está comigo. 

A mesma noite que faz branquejar as mesmas árvores.
Nós dois, os de então, já não somos os mesmos. 
Já não a amo, é verdade, mas tanto que a amei.
Esta voz buscava o vento para tocar-lhe o ouvido. 

De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos.
A voz, o corpo claro. Os seus olhos infinitos. 
Já não a amo, é verdade, mas talvez a ame ainda.
É tão curto o amor, tão longo o esquecimento. 

Porque em noites como esta tive-a em meus braços,
a minha alma não se contenta por havê-la perdido. 
Embora seja a última dor que ela me causa,
e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo.

Pablo Neruda - Fascinante!

Poética de um Rosto? 

Que a neofiguração se torne ní- 
tida. Do objecto sedutor. Incrus- 
tado nas vozes. Quanto resul- 
taria, iluminado pelo silêncio. 
O painel de onde se despren- 
de a linha. Um modelo clássico 
que revele. As palavras eter- 
nas da fábula de Hero. 

Proximidade incompreensível 
como a de alguns poemas. Sen- 
timentos que são indecifráveis. 
Uma dedução para o fim. Tal- 
vez o amor jubiloso dentro 
da quarta parte da pupi- 
la do olhar divisível pela 
cruz axial. Encontrado na pai- 
sagística do rosto. Expecta- 
tiva de um sentido propício. A 
revelação verso por verso. 

Fiama Hasse Pais Brandão, in "Nova Natureza"

O correr da vida embrulha tudo.
A vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem..


Guimarães Rosa



Monday, May 10, 2010

Sobre o livro de Eusebio Sanjane..Eu! hehe


ROSAS E LÁGRIMAS

Um poeta místico persa e simultaneamente um grande poeta do amor, Rumi, escreveu: «a angústia, é Deus que se afasta!» E o que se perde, nessa distância que gradualmente se interpõe entre nós e Deus? A reciprocidade do olhar.
Por causa do tipo de combustão que alimenta a reciprocidade dos olhares podemos, com pertinência, substitituir Deus pelo tu e repetir a formulação: «a angústia, és Tu que te afastas». E este afastamento torna-se tremendo porque nós só nos completamos no Tu que o Amor celebra.
É neste transe ( e aflição) que o lirismo de Eusébio Sanjane se situa, o que quer dizer que Rosas e Lágrimas é um primeiro cometimento de um poeta lírico, que escolheu o Amor como paisagem poética (o que rareia mais do que se julga).
Propensão lírica que se ilustra nesta passagem: «dá-me somente alguns versos/ para que eu possa cravar/ sobre os meus passos/o vazio do meu nome.»
... A sua poesia propende à leveza do pássaro que não necessita, para cantar, de possuir floresta, nem mesmo de possuir uma só árvore - é dádiva pura. A dádiva que se desprende nestes versos: «quando te amo / não tenho corpo.» Parece-me um paradoxo: como é que se ama sem corpo? O poema responde na estrofe seguinte: «desfaço-me em cinza/deixas escapar meu nome».
...Belíssima imagem: «fecho os olhos/ bem devagar /para que o tempo não note / a tua demora (...)»
....Aconselhamos a este jovem poeta a despir de ornamentos os seus poemas como despe os corpos.

  António Cabrita
  Docente Universitário e Crítico de Artes
Texto de apresentação do livro Rosas e Lágrimas

Discurso Samoriano


Eis, amigos, todos amantes do conhecimento um discurso de 1974, proferido pelo ilustre primeiro presidente de Mocambique: Samora Moises Machel. Este discurso, e bastante interessante, por ser uma radiografia daquilo que passados tantos anos veio a acontecer. Infelizmente, esta em forma de imagem e nao digitado. Mas , tentem le-lo.

Monday, November 30, 2009

E eu partirei.

E eu partirei.
No caminho o sabor de nós dois
se extinguira, as mãos, iniciadas na arte de submergir
por entre extensas planícies azuis, irão
quedar deflagradas em mil e um pedaços.
A dor intensa,
a lágrima espinhosa,
o rosto que se afasta,
o peito que mingua...sou eu!
E eu partirei,
levando comigo somente os resquícios
dos beijos havidos,
das manhãs todas que a sede transformou-te, assim como se transformaram esses rios de caminhos incertos
e que seguem a eterna busca do infinito mar.
O silencio inquietante,
o vazio profundo,
a voz que de longe
desperta a tua atenção...sou eu!
E eu partirei, mesmo que me falte o corpo, mesmo que não me bastem os passos, pois sei que em algum lugar, em algum momento, lá estarás tu, esperando por mim, e sorrindo dirás: — Já estava cansada de te esperar!
E nesse instante,
um sorriso em pérola,
uma lágrima em flecha,
uma flor apenas,
será bastante para te mostrar a minha felicidade.

O nosso sonho, irmãos

O nosso sonho
cresce fértil nas vísceras da terra
e é nosso o suor que o alimenta.

A nossa (in)consciência

Vejo a madrugada resvalando-se
num abismo de tenebrosa cólera, fértil
o olhar da prostituta sufoca o grito
do recém-nascido, transformando-o num coágulo de sangue que
fenece pelos esgotos ignotos
das ruas da nossa consciência...
Se a nossa consciência
não fosse esta exímia parturiente da maldade,
que sentido faria a benevolência?

Os teus olhos infinitos

Hoje roubei todas as estrelas do céu
e quando pensei em colá-las nos teus olhos
faltava-me ainda o universo todo...

índicos caminhos

Quero me afogar por estes caminhos em que morrem as flores de cada luar.

Quero recriar as raízes de cada noite e entender como morre o sol na boca dos peixes...

Deixa-me entender os segredos que suavemente o vento revela aos pinheiros,

Provar da curiosidade da terra que despe as rosas dos seus vestidos vermelhos, ou mesmo das suas folhas que pairam no ar como verdes aves de esperança.

( Digam-me quem amputou o sexo das rochas, que já não gemem, quando as cálidas mãos da tarde as afagam.)

Quem silenciou o cantar dos búzios,
que embalavam as revoltas ondas do mar?

Friday, November 20, 2009

En tu cuerpo

En tu cuerpo 

habito la media distancia 

entre la locura y la muerte 

o aún, la constante 

busca del infinito, donde 

se revelan las inconfessadas 

recuerdos que la memoria 

nos oculta. 

 

Vuelvo a crear en la desnudez del verso 

la súbita forma de las aves 

en simulado vuelo, trazando 

la breve alianza, del cuerpo y de 

el alma, cuando el lento 

fuego se denuncia en tus ojos. 

 

Reescribo solamente para ti 

el indescriptible despertarse de los crepúsculos 

bajo los ojos, y, divagando por los 

túneles subterráneos de tu cuerpo 

atravieso el infecundo vientre 

de las caricias, donde penden las manos 

deseosas de placer. 

 

Sin embargo 

reside en nosotros, mi amor, 

esta sede por matar 

que embriaga-nos de sequedad 

y, ahoga nuestros labios de distancias. 

 

Mi amor, 

no tarde, que mis ojos se borraron 

no tarde, clave luego tus manos 

dentro de mi pecho, y, cúbrame de brillo 

haga despertar el sol en ti, 

para que no tardemos a amanecer.

Friday, October 23, 2009

Minha ausência



Dei-me férias. Senti que precisava, e fi-lo. Eis que volto, tentando novas abordagens:


Não escolhemos a escrita - mas sim -, ela que nos escolhe. E isso - não é uma bênção -, é uma chaga dorida que nos acompanha na eternidade dos dias, no frio latejar da carne no pendor do desejo matinal. Pois Poeta não é gente, e neste mundo, esses que tecem intimidade com as palavras não tem espaço. 
 É árduo o oficio da escrita. Pior é ser poeta. 
É implacável a dor da escrita. 
Pior é ser poeta. 
A escrita é uma Nau secular transportando no seus porões o grito áspero e espesso da despedida, nela vivem todos amantes que não resistiram a olhar compungido da despedida, e não mais conseguiram atracar em porto algum.
Pior é ser poeta….
Atravessei refugo ferozes lembranças do meu próprio desespero, por incomensuráveis vezes esventrei as paredes amorfas da existência a procura de minh´alma , e nesses instantes de pura mortificação sofri em silencio.  
Escrever é percorrer um caminho morto, uma existência fugaz de um espelho que se revê na face de quem o toca. 
Mas eu gosto de ser poeta, e me reinvento neste exercício de tudo ser… 


Saturday, December 16, 2006

A liturgia dos insanos


1. Por aqui somos de carne e sal,
ou mesmo, de sol nascente,
longe do estéril turbilhão da rua.

2.As palavras que nos revelam,
são de luz pura e de encantamento,
e mais ainda, o delírio incessante
que nos confessa o tépido bafejo da aurora.

Não há lua no céu


1.Letárgico o rio deflui
silencioso dentro de uma noite afável,
E vagando pelo cosmo
vai tecendo estrelas-marinhas
pelas dóceis nuvens, que são também
de agua imaculada, e resguardam as profunduras
da tranquilidade, que somente os anjos desfrutam.

2.Pela janela quebrada
do meu quarto, vislumbro
o plenilúnio romper, e quedar
ensombrando a monocromática paisagem
de arvoredos tímidos, e de cores fugidas.

3.Nas calçadas frias, os dedos pedintes
dos meninos reluzem, trepidantes
remendam sonhos havidos, de um áureo
alvorecer.

Há um homem

1.Há um homem em cada
noite, que se multiplica em suadas mãos
para esmerar um corpo amado.


2.Há um homem
que se dissolve em suspiros
e queda fatigado nos teus braços
a cada noite, mulher!


3. E no oficio árduo das madrugadas
nasce um homem, um homem novo,
um homem de mil e uma auroras
assim como se plagiasse o resplandecer
dos teus olhos, mulher,
para cravar os astros de prazer.


4. Há um homem, mulher,
um homem que sou,
um homem que nasço,
somente quando te amo.

???Dúvidas I???

1. De quem é a arma que embala o medo da criança órfã que vagueia pelas ruas frias do nosso remorso?

2. Por que há tantos atalhos para a tristeza
e tão poucos caminhos para a felicidade?

3. Por que se mede o mundo
mas não as tristezas?

4. Como conseguiram os homens
descobrir o abismo da maldade,
e desconhecem a escadaria da bondade?

5. Por que não extraem o ouro do sol os homens?

6. Quantas bíblias há no céu?

7. Por que os grandes aviões não fazem ninhos? E quem já os viu ensinarem os seus filhos a voar?

8. É verdade que a dor se deve regar com lágrimas para a felicidade florir?

9. Como entenderão a minha poesia aqueles que jamais sentirão o meu sangue?

10. Se Deus está em todos os cantos por que olham para o céu os homens?

11. Se quando morremos vamos ao paraíso por que preferimos antes o inferno?

12. O que dizem sobre a morte os abutres?

Um lugar no meu coração

1. Choras...
Por vezes até morres,
e afundas em teu fosso de orgulhosa cólera,
até que nada te reste, senão, um instante,
um só, em que amaste sem medo, que te entregaste
sem corpo, sem alma, que foste mulher.


2.Nas noites frias e duras,
o traço forte da loucura irrompe
pela vidraça das tuas janelas,
embaçadas, sujas, e ofusca o brilho
de tudo, e até mesmo o teu, e permaneces
assim, no teu fosso de silêncio, silenciada...


3.E ai, eu também choro,
que amar é partilhar,
E ai, eu também sofro,
que amar é esperar,


4.Sei somente, que um dia,
teus olhos despertarão, coloridos,
e acredite, meu amor, não haverá
uma manhã sequer, que negra
não assuma o teu esplendor,
uma manhã em que não sorrias,
é isto que eu te ofereço:
— Um lugar no meu coração!

O teu riso

Antes a morte,
que perder o instante em que sorris.

Não me negues
o milagre que inventas,
a rosa que de súbito
brota da tua alegria.

Regresso por vezes com as mãos
vazias, o corpo dormente,
o sol já não morre, o mar
já não preenche infinitos caminhos,
mas logo tu sorris,
e tudo regressa a sua mansa ordem,
o mar que secara,
ressurge dos teus lábios,
o tempo que me atravessava como
um espada afiada, é agora
o meu único refugio.

O teu riso, meu pão,
sustenta os caminhos há muito estancados
que me guiavam ao teu colo... Escuta,
o rio, as algas, o vento,
que eu escutei um murmúrio
e entendi o teu riso,
essa porta que para mim
se abre.

“Não posso dizer adeus”

Ao poeta Armando Artur.


Todas as manhãs invento um novo motivo
para permanecer, enquanto lá fora
cruéis as aves me ensinam a partir.
Não posso dizer adeus. Aqui as noites
são menos gélidas, e as madrugadas, cálidas
embalam o meu medo de me aventurar.

Não posso dizer adeus. Nunca ninguém
me ensinou o seu real sentido, mas se este
é realmente o teu desejo, eu irei, sem no entanto,
provar a dor da despida, pois não posso dizer adeus.
O olhar, volvendo compungido, atrás,
meu porto de partida e chegada jaz, fulmina-se
também o calor da primeira habitação.

Em meu peito, tudo está gasto, menos o silencio.
Enfio a mão na algibeira do casaco, e já não
encontro tudo aquilo que outrora tínhamos
um para o outro.

Tão longe o esquecimento, tão perto a lembrança

Partiste e,
somente eu sei,
tudo que te dei
e tudo aquilo que não recebi.

Partiste e,
o que encontras nesses caminhos
feitos de espinhos onde te magoas?
Sangue, charcos, ou algas?
O que sentes, alegria, felicidade,
ou somente dor? Vá diga-me!

As noites aqui
são cada vez mais duras
mas não temas, esquiva-te das minhas lágrimas,
não te firas com a minha dor, que seria inútil.